a poesia é a poesia, é a poesia...

Neste endereço irá publicar-se poesia, mesmo que seja escrita em prosa, da temática universal em que a sonhou, escreveu e declamou Carlos Faria

domingo, 16 de janeiro de 2011

BOM TEMPO NO CANAL


Faz hoje um ano que Carlos Faria nos deixou. Neste poema, escrito em 1987 em Bragança, revela todo o seu amor pelos Açores e muito especialmente por  São Jorge



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Nos 80 anos de Herberto Helder

Poema escrito por Carlos Faria e dedicado a Herberto Helder








CLORIDRATO DE HEROÍNA

Ao Poeta Herberto Helder




As sensações começam a arder na medula
e vão até arrefecer na polícia
A polícia tem tudo a seu cargo, a polícia boia
sobre os escombros, sobre os delitos, sobre as grades

A polícia funde o gelo, abre muros na escuridão,
deixa impressões digitais no fumo da cólera
veste de medo os delinquentes do paladar !

Heroína é uma droga salgada. Os cloretos
já por si são leves: Quando caem no sangue
dançam no sonho com os nervos...
Eu drogo-me de nuvens... Da anarquia ao sonho,
da dor de poema ao vento que me abre os braaços...

Nuvens : uma droga com a qual
a polícia ainda não se importa

Carlos Faria
Rosto e Diálogo 1966

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A poesia, toda a poesia de Carlos Faria e de seus amigos


Num primeiro instante iremos pensar em trabalhos de sua autoria, mas a abertura a terceiros é um intento claro.

Solicitamos - também aqui - que haja, como através de toda esta comunidade de blogues, uma vontade deliberada e generosa em partilhar cartas, memórias, poemas e tudo o mais que se relacionar com a conhecida paixão cultural e artística do poeta.




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UNIVERSO

Tirar bilhete!
Tirar bilhete para onde?

Esta coisa de ter de tirar bilhete
quando é nosso o Universo,
e nosso é o barco que nos leva,
e nos portos toda a gente espera por nós,
e nas praias as areias nos conhecem !...

Tirar Bilhete! (absurdo verde)

Ainda bem que para a morte não é preciso bilhete
e Sócrates pode morrer novamente se quiser.
Ainda bem que para morrer
nem a morte precisa de o saber,
- É ir ter com ela e dizer-lhe ...

Tirar bilhete ?
E o que dirá o Universo ?
O que dirá ele que há tanto tempo
ando a segredar-lhe:
- Querido, és meu !

Açores, 1956

Carlos Faria

In “DISTÂNCIA AZUL” (POEMAS DO MAR E ÁFRICA)


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SÃO JORGE, COSTA NORTE

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Desço com o vento a Ribeira dos Vimes, levo pássaros nos ombros e escuto a voz da água da Caldeira. Esmeralda, o ar da manhã...

A terra treme: é o vulcão oculto da ilha, a boca de rir tremendo, o registo nos ramos altos das árvores livres... Tremer sem medo é uma linguagem da ilha, a febre profunda de chegar às raízes das pessoas...

É Verão quando não chove e o vento sopra do sul. E se chover é o mesmo...

O basalto é azul até onde o mar chega... A costa norte rebenta de silêncio e o João, a golpes de enxada, põe ao sol o corpo submerso dos inhames.

As crianças da Fajã sorriem para o sol-total desta manhã norte de São Jorge: este é o poema!

Fecho os olhos e com as mãos procuro em carícia a erva no solo e levo-a à boca como um animal civilizado que lhe agradece a beleza e o aroma magnífico deste céu terreno.

João acena-me com os braços erguidos, chama-me com o seus gestos de pescador e camponês: gestos que trazem raízes e ondas, a bondade universal da ilha e do mundo!

Não é o que sinto e canto que faz o Poema! O poema é a Ilha e a sua gente; o resto do que digo não passa duma manhã de esmeralda com um homem dizendo “bom dia” nos gestos de trabalhador!

Carlos Faria, S. Jorge (Ciclo da Esmeralda),
Deleg. da Coop. Semente em Lisboa, 1979
(Mús. – “Saudade de S. Jorge”, G. E. Beira, S. Jorge, 2002)

Nota: este poema foi-nos gentilmente enviado por Olegário Paz, acompanhado pelo respectivo registo audível. A inserção deste elemento - por enquanto - está fora das nossas competências informáticas.


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

José Guilherme Macedo Fernandes

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Em Memória de Carlos Faria

Como eras homem de vulto
No corpo e na alma
Nunca te esqueci
Nem esquecerei
Porque não pude nem posso
Porque não quis nem quero
Prefiro recordar-te envolto no esmero
De semeares cultura
Para bem da gente
De um país inculto

No teu Glacial
Dei como outros mais
Os primeiros passos públicos
De poeta por ti estimulado
A sair à rua e mostrar
O que guardava na gaveta do pudor

E posso lá esquecer
Os teus flashes
Certeiras flechas
Na mouche do pretendido alvo
Prenhes de intenção e luz
Capazes de incendiar
Nove ilhas adormecidas

E temos ainda São Jorge
Em comunhão de emoções
Sentimentos e afectos
Que eu jamais tentei
Cantar ou descrever
Em prosa ou poesia
Pois que tu te antecipaste
E de São Jorge disseste
Com amor frescura e mestria
Tudo o que eu sentia
O meu São Jorge
Está retratado em corpo inteiro
No teu São Jorge

Para recordar e reviver
A nossa Ilha
Por ti amada como filha
Basta-me ler
As cartas de amor
Que ao longo dos tempos lhe escreveste

Disseram-me há dias
Que tinhas descido à terra
Eu não acreditei
Sorri e pensei
Num Canal de mar
Num golpe de ar
Num leve bater de asa
Genial picardia
Gostosa brincadeira
À Carlos Faria

Fui a correr
Reler o teu «São Jorge – o ciclo da esmeralda»
E num lampejo vislumbrei o cenário
O teu último flash
Fruto do génio e da graça
Que perdulário espalhaste
Pelas ilhas encobertas da Vida
Flash que por certo imaginaste assim:
Vou mergulhar a fingir
Na terra fria
Como se fora o fim
Para logo ressurgir
No alto do Pico da Esperança
A luzir que nem uma estrela
A sorrir que nem uma criança.

José Guilherme


NOTA:
Temos muito gosto em publicar este poema de José Guilherme Macedo Fernandes, acrescentando o texto da sua muito estimada mensagem:


Caros amigos,

Conheci, admirei e convivi com o Carlos Faria nos anos setenta, em
Angra do Heroísmo, onde eu vivia. Chamo-me José Guilherme Macedo
Fernandes e sou cunhado do Artur Goulart que me deu o vosso contacto e
me sugeriu que vos mandasse esta singela homenagem que me saíu em
memória desse grande homem e  amigo, quando soube do seu falecimento.
Com consideração e estima,

José Guilherme

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Poema Inédito de Carlos Faria dedicado a Onésimo Teotónio de Almeida escrito numa toalha de restaurante

clicar para ver maior

O fogo que devora a ilha é a distância
e quando digo a distância digo o rosto do mar,
a asa de terra e a asa do mar.
Só me interessa a ilha, seja pequena ou minúscula,
Seja São Jorge dos Açores na espada da manhã,
Seja a Austrália redonda gigante e veloz,
Enquanto São Jorge é verde - outro verde - e feliz !

A ilha é uma pessoa do mar,
Do mar da multidão: afogando-se louca e crédula de espanto
No 5º aclamo da derrota!

E, São Jorge, dos Açores?
Quero lá saber, Jorgenses. Que a ilha trema
E o mar seja mais curto que o quarto
Se a aurora é o prenúncio roxo do luar
E os barcos partem quando partem
E as marés são rosas mansas de espinhos doces,
E a baía das Velas não sei o que é
Só sei que é a Baía da Velas

São Jorge, ao luar, lembra uma nespereira brava
Na Baia da Urzelina, cantando manhãs de névoa
E sóis do encoberto

Nota:
Ao pedido de autorização de publicação feito a Onésimo Teotónio de Almeida por Carlos Nuno Faria, teve a seguinte resposta:

Subject: RE: Poema do meu pai

Bom dia (imagino que será quando ler este e-mail)

Não sei responder ao que me pergunta. Não conhecia o poema e fico tocado por ele. Deu-me uma grande saudade do meu amigo Karlos Faria. Tanto que me diverti com ele! Suspeito que terá sido escrito em S. Jorge quando lá foi homenageado durante o encontro de escritores açorianos em 1998.Claro que não só não me importo (?!) de ter esse poema no blogue como muito apreciarei que esteja.
Um abraço do
onésimo

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Poema manuscrito de Carlos Faria dedicado ao pintor David de Almeida

 
 
 

Temos o enorme gosto de publicar este poema e dedicatória ("talvez um pensamento" lhe chama David de Almeida).
O teor da mensagem que nos enviou é a seguinte:

Boa tarde Isabel Patrícia, boa tarde Carlos Nuno

Obrigado pelo poema que não conhecia e pelo endereço do blogue que vou espreitar de seguida. Junto o poema e um pensamento que o pai me dedicou. Se precisarem dos originais... estão à disposição.
Não prometo meter-me no blogue por agora. Tenho o meu parado www.escritadapedra.blogspot.com desde que fui operado à retina, tenho ainda alguns problemas de adaptação ao monitor. Podem usar estes escritos como acharem melhor. De mim, disponham.

Um abraço e sangue como diria o Karlos.

David de Almeida


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