Neste endereço irá publicar-se poesia, mesmo que seja escrita em prosa, da temática universal em que a sonhou, escreveu e declamou Carlos Faria

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A poesia, toda a poesia de Carlos Faria e de seus amigos


Num primeiro instante iremos pensar em trabalhos de sua autoria, mas a abertura a terceiros é um intento claro.

Solicitamos - também aqui - que haja, como através de toda esta comunidade de blogues, uma vontade deliberada e generosa em partilhar cartas, memórias, poemas e tudo o mais que se relacionar com a conhecida paixão cultural e artística do poeta.




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UNIVERSO

Tirar bilhete!
Tirar bilhete para onde?

Esta coisa de ter de tirar bilhete
quando é nosso o Universo,
e nosso é o barco que nos leva,
e nos portos toda a gente espera por nós,
e nas praias as areias nos conhecem !...

Tirar Bilhete! (absurdo verde)

Ainda bem que para a morte não é preciso bilhete
e Sócrates pode morrer novamente se quiser.
Ainda bem que para morrer
nem a morte precisa de o saber,
- É ir ter com ela e dizer-lhe ...

Tirar bilhete ?
E o que dirá o Universo ?
O que dirá ele que há tanto tempo
ando a segredar-lhe:
- Querido, és meu !

Açores, 1956

Carlos Faria

In “DISTÂNCIA AZUL” (POEMAS DO MAR E ÁFRICA)


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SÃO JORGE, COSTA NORTE

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Desço com o vento a Ribeira dos Vimes, levo pássaros nos ombros e escuto a voz da água da Caldeira. Esmeralda, o ar da manhã...

A terra treme: é o vulcão oculto da ilha, a boca de rir tremendo, o registo nos ramos altos das árvores livres... Tremer sem medo é uma linguagem da ilha, a febre profunda de chegar às raízes das pessoas...

É Verão quando não chove e o vento sopra do sul. E se chover é o mesmo...

O basalto é azul até onde o mar chega... A costa norte rebenta de silêncio e o João, a golpes de enxada, põe ao sol o corpo submerso dos inhames.

As crianças da Fajã sorriem para o sol-total desta manhã norte de São Jorge: este é o poema!

Fecho os olhos e com as mãos procuro em carícia a erva no solo e levo-a à boca como um animal civilizado que lhe agradece a beleza e o aroma magnífico deste céu terreno.

João acena-me com os braços erguidos, chama-me com o seus gestos de pescador e camponês: gestos que trazem raízes e ondas, a bondade universal da ilha e do mundo!

Não é o que sinto e canto que faz o Poema! O poema é a Ilha e a sua gente; o resto do que digo não passa duma manhã de esmeralda com um homem dizendo “bom dia” nos gestos de trabalhador!

Carlos Faria, S. Jorge (Ciclo da Esmeralda),
Deleg. da Coop. Semente em Lisboa, 1979
(Mús. – “Saudade de S. Jorge”, G. E. Beira, S. Jorge, 2002)

Nota: este poema foi-nos gentilmente enviado por Olegário Paz, acompanhado pelo respectivo registo audível. A inserção deste elemento - por enquanto - está fora das nossas competências informáticas.


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